A gente mira no amor e acerta na solidão. Ana Suy escreveu isso como título do seu livro que parei pra ler essa semana (não terminei, btw) e, sinceramente, tem dias que essa frase parece uma maldição grudada na testa da nossa geração. Porque a gente quer tanto… só se falar de amor, de conexões, da vontadade de construir algo sólido.
A gente flerta com medo. Demonstra interesse com reação de foguinho em story. Finge desinteresse pra não assustar. Age como se não ligasse, mesmo morrendo de vontade de mandar um “chegou bem?”. Só que perguntar isso hoje já parece demais, já parece carência, intensidade, drama.
Você se interessa por alguém e pensa trinta vezes antes de dizer. Porque tudo pode parecer exagero. E aí se diz, diz pela metade. Torce pra pessoa entender. Torce pra ela não fugir. Porque demonstrar virou sinônimo de sufocar, e sentir muito virou "love bombing", então “não posso demonstrar muito no início porque ela vai achar que tô enganando ela”, que merda? Uma sugestão que eu dou pra ninguém achar que você tá enganando é… Não enganar. Enquanto isso, o outro vai sumindo aos poucos. Ou você perde o interesse e, sem saber como dizer, some sem dar explicação. E isso virou ghosting. A palavra é bonita, moderna, mas no fundo é só mais uma forma de correr da responsabilidade afetiva que ninguém quer assumir. A gente fala sobre maturidade e inteligência emocional, mas tem pavor de conversar olho no olho e dizer “acho que não vai rolar”.
Parece que nunca é a hora certa de gostar de alguém. Nunca é um bom momento pra se abrir. Tem sempre alguma desculpa: o TCC, a instabilidade emocional, financeira, o ex que ainda mexe, a terapia que ainda não deu conta. E imagino que esse problema não seja geracional, a vida é e sempre foi uma bagunça mesmo, mas às vezes dá a impressão de que a gente usa isso pra adiar tudo que é sincero. Como se só fosse permitido amar quando tudo estivesse resolvido e, vamos combinar, esse dia nunca chega. Sempre teremos pendências pra resolver porque se a vida estivesse completamente nos eixos, não seria a vida.
É bizarro como a gente tá mais conectado do que nunca e, ao mesmo tempo, tão sozinho. O “azulzinho” no whatsapp virou tortura. O “digitando...” virou esperança. A curtida no story, sinal de vida. A ausência de resposta, um chute no estômago. E a gente vai criando código pra tudo, tentando decifrar o outro como se amor fosse charada. E as vezes não precisa ser.
No meio disso tudo, a gente tenta amar. De verdade. Com a bagunça que tem, com o medo que sente. Mas tá cada vez mais difícil. E quando se acerta, parece sorte.
Pode ser que a gente só esteja exausto. Talvez ainda tenha gente que quer amor, eu por exemplo. Que quer conversa com demora, olho no olho, mensagem de bom dia e abraço depois de um dia ruim. Mas tudo isso parece frágil demais pro mundo de agora. Quase cafona.
Mesmo assim, de vez em quando, a gente tenta. Mira no amor, sem saber se vai. E se errar, bom... já estamos acostumados a cair direto na solidão.